segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ensaio sobre a Linguagem





Suscitando indagações sobre o behaviorismo...










LISTA TELEFÔNICA
Crônica por Fabrício Carpinejar.

O nome é um espelho. O primeiro e último espelho. A nossa estreia pública, na certidão de nascimento, e o nosso derradeiro aceno das letras, na lápide.

Enxergar o nome impresso foi sempre uma das minhas principais alegrias. Eu sabia que existia, mas era a chance de outros saberem. Vinha como promessa de alguma posteridade, de alguma fama, de algum significado maior.

Talvez a gente viva pelo desejo de ver nosso nome em destaque. É a primeira coisa que a gente aprende na escola: escrever o nome. No meu caso, em intermináveis cadernos de caligrafia.

É o motivo da batalha inicial — de uma guerra sem fim — dos pais por nossa causa: qual será o nome dele?

É uma briga que levamos vida afora, defendendo a grafia em hotéis e documentos e a pronúncia em telefonemas e encontros.

O nome é a solidão, a paz, o ferrolho dos recreios e das corridas, onde nenhum colega pode nos alcançar (terrível quando nos deparamos com um nome e sobrenome exatamente iguais ao nosso, e ainda descobrimos que o gêmeo bastardo é mais rico, sortudo e feliz e que, na verdade, somos o bastardo dele).

Sem nome, não existe destino. Recordo minha concentração obsessiva ao treinar a assinatura para a carteira de identidade, o temor de não repeti-la.

Pense na força do nome nas conquistas. Sem ele, sequer nos alegramos, não há mérito. O nome é a cicatriz da vitória.

Meu nome na toalhinha de rosto do jardim da infância. Meu nome na lista de chamada. Meu nome no boletim escolar. Meu nome no cabeçalho do bilhete de amor. Meu nome no título de eleitor. Meu nome na lista dos aprovados do vestibular. Meu nome no primeiro livro. Meu nome na casa própria. Meu nome no convite de casamento. Meu nome na conta de luz.

Mas o lugar mais importante de todos e o que mais esperei para colocar meu nome, e que hoje não faz nenhum sentido, era a lista telefônica. Antes do Google e dos sistemas de busca, só havia um jeito de encontrar alguém: consultando aquele calhamaço dividido entre as páginas cinza (residencial) e as amarelas (comercial). Não importava que a letra fosse de formiga, de bíblia, imperceptível, que dependia do corrimão do indicador. Quem ali constava desfrutava de respeito, de valor, de dote social. Ter o nome na lista telefônica era a prova incontestável de que havia ingressado na vida adulta. O momento que entrei como proprietário de endereço e telefone não me aguentei de contentamento: Nejar, Fabrício. Página 879 de Porto Alegre. Qualquer trote já identificava como resultado da publicação. Melhorou meu riso no trabalho. Melhorou meu desempenho sexual. Cresceu bigode nas vogais.

Fui mostrar ao meu avô que apareceu mais um Nejar na Lista Telefônica. O décimo primeiro, sublinhei a linha para não me confundir na hora de procurar.

— Olha, vô, aqui! Estou famoso.
— Agora você está igual a todos.
— Ei, por quê?
— Gente comum tem seu nome na lista telefônica, gente famosa tira.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Crônica...

Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de NORMOSE, A DOENÇA DE SER NORMAL.Todo mundo quer se encaixar num padrão.

Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo.

A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.

A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós?

Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem.

Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.

Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos.

Melhor se preocupar em ser você mesmo.

A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa...

Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta.

Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.

Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.

Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.

Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.


Martha Medeiros
05.08.07-Jornal Zero
Hora-P.Alegre-RS

PS.: Mais uma contribuição da colega Isadora Mallmann :)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Filmes...

As indicações dos filmes é da Colega do letras, Cláudia Beatriz Canez Fabião.

* O Triunfo: relata os desafios epistemológicos, sociais, estruturais da relação professor-aluno. O filme é baseado na vida de Ron Clark (1994), um professor bem sucedido na Carolina do Norte (EUA), que parte para novos desafios e vai dar aulas no Harlem, em Nova York, Estados Unidos. A primeira barreira que o professor tem que vencer é a disputa pelo cargo, que, conforme vemos no filme, não é fácil e deixa a muitos pelo meio do caminho. Trazendo para a nossa realidade, lutar contra as regras do diretor e as normas da instituição, nem sempre as mais pedagógicas, é outra árdua batalha que professores e professoras enfrentam no seu dia-a-dia. Depois as resistências dos próprios alunos, que, muitas vezes, não possuem noções de limites, direitos e deveres, nem de ecologia humana.

* A Educação de Pequena Árvore: uma rflexão sobre educação escolar institucional e educação indígena; abre o debate sobre preconceito entre grupos sociais, e a pseudo-superioridade dos que se dizem civilizados; na cena do castigo é possível observar que são as crianças que brincam que são castigadas na educação formal, sendo que é brincando que se constroem mais facilmente os conceitos e aprendizados. E um filme importante para todos que se envolvem com a educação hoje, principalmente nas escolas públicas onde recebemos tantas culturas diferentes e onde deve ser um lugar de convivencia e não de repressão, e muitas vezes a repressão se torna presente disfarçada de bons costumes.

Inconfidente Noite

Segue o link da poesia Inconfidente Noite, autoria Isadora Mallmann, colega do letras.

http://www.blogger.com/img/blank.gif


PS.: Obrigada Isadora, por partilhar conosco esse lindo poema.